sexta-feira

A DOMA DE CAVALO DO TIPO EQUUS


O presente Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao III módulo do curso Técnico Veterinário, do Colégio Tableau, como requisito para justa avaliação para conclusão de curso, é obra de meu amigo, Gregne Ribeiro Paulino, o qual tive oportunidade de auxiliar, na qualidade de amigo e supervisionar, com minha experiência acadêmica e como pesquisador apaixonado pelo conhecimento que sou. O Trabalho foi em justiça premiado com nota máxima, e dou felicitações e parabéns a meu grande e melhor amigos Gregne.



INTRODUCAO

Essa pesquisa de conclusão de curso foi supervisionado pela professora do Colégio Tableau, Drª. Manoela Lopes Pimentel, do III módulo do curso técnico veterinário e elaborado com base no tema: A Doma de Cavalos Usando a Técnica do Equus.

O objetivo deste projeto é defender a doma de cavalos do tipo Equus, desenvolvida por Monty Roberts, exposta em seu livro O Homem que Ouve Cavalos. Para tanto, contaremos com bibliografias a mercê do tema, fazendo uma ampla garimpagem tanto em livros quanto em páginas da internet. É importante ressaltar que a pesquisa visa ser clara e objetiva sendo assim, este se configura em um trabalho consultivo para primeiras análises. 

A técnica de domar cavalos se configura em um conhecimento milenar identificado em diversas sociedades humanas, geralmente passada de pai para filho, dentro da especificidade do grupo social em questão.

Grande parte dos domadores, que são reconhecidos dentro do grupo social no qual fazem parte, como especialistas naquilo que fazem, utilizam o princípio da violência no adestramento do animal. Monty Roberts, todavia, apresenta uma nova metodologia de adestramento, com a utilização de aproximação, uma boa dosagem de paciência, com muito carinho e amor ele propõe uma doma sem sequelas e estresse. A defesa de sua técnica foi proposta em seu livro O Homem que Ouve Cavalos, onde a doma Equus (paciência) é apresentada como oposição ao emprego da violência.

MONTY ROBERTS

Aos sete anos de idade Monty, foi apresentado pelo seu pai um homem rude e autoritário, a técnica de doma centrada na utilização da violência dentro do redondel [1]de quebra. Monty não demonstrou mas, não tinha interesse em participar daquela brutalidade que seu pai fazia com os cavalos.

Não se sentia preparado para tanta crueldade, para tanto solicitou alguns dias para seu pai com dois cavalos. Passado três dias Monty chama o pai e lhe apresenta seu trabalho com os dois animais. Trouxe um dos cavalos e colocou dentro do redondel e soltou, percorria de um lado para o outro e o cavalo o seguia, ficou sobre as pontas dos pés e silenciosamente correu a sela sobre o lombo do cavalo. Seu pai vendo, ficou admirado e decepcionado, uma surra de corrente foi utilizada como forma de punição ao menino que rompera com a tradição do pai, que utilizou dos mesmos métodos que utilizava com os cavalos para punir o jovem.

O método da doma equus, desenvolvido por Monty, aqui no Brasil é conhecido como o método da doma racional. E suave para o cavalo, baseia-se no princípio da não violência. O cavalo é subjugado pela paciência, o carinho, a aproximação cautelosa, as lições progressivas e repetitivas, sendo recompensando pelos acertos. Originalmente, o método da doma racional foi introduzido no Brasil através dos treinadores do cavalo Quarto de Milha.

Uma das Vantagens é que esse moderno método de adestramento favorece o contato rotineiro entre cavalo e o homem, na alimentação, no controle sanitário, no manejo reprodutivo, no trato do pêlo. Além de ser uma técnica na qual o equino desenvolve com prazer, sem qualquer metodologia de subjugação e violência de ambos os lados, tanto do animal quanto do homem. O resultado final é um animal mais dócil, de fácil manejo e aptidão no trabalho, demonstrando vitalidade e saúde, sendo a doma do tipo Equus preferencial no adestramento dos equinos.

TÉCNICA EQUUS OU DOMA RACIONAL


Quando se iniciar um cavalo usando o método do Equus, o domador tem que ter em mente que não ira provocar dor de maneira nenhuma ao animal. Não pode bater, chutar, empurrar, puxar, amarrar, ou fazer qualquer coisa que impeça seus movimentos. Portando, se for necessário fazer alguma punição ao animal, o domador deve incentivá-lo a ficar perto. O cavalo é um animal que quando sob pressão tende afaste-se e por esse motivo é denominado de animal voador.
INICIAÇÃO

Deve-se trazer o cavalo para dentro do redondel com o auxílio de um cabresto, e ficar perto do centro do redondel. Se ele já tiver contato com pessoas deve-se fazer um afago na testa dele com a palma da mão. A partir de então se deve ir para a um ponto neutro e fazer com que a corda atinja os posteriores do animal de forma suave. O objetivo é que o animal comece a correr em volta do redondel.

Deve-se manter a pressão com a corda cada vez que achar necessário atirar a corda em direção ao animal. O domador deve manter uma atitude agressiva fixando seus olhos aos olhos do animal, ombros enquadrados com a cabeça dele e fazer com que ele complete cinco ou sete voltas para um lado e depois para o outro. Olhar rapidamente para a orelha que está voltada para dentro do redondel, fará com que ele diminua a velocidade, então ele começa a abaixar e levantar a cabeça correndo com a mesma próxima ao chão. Irá começar a lamber os lábios, por a língua para fora e mastigar o ar e finalmente ele irá abaixar a cabeça próxima ao chão. Com isso ele estará dizendo que não fará mal algum e ele tem respeito pelo domador e que pode parar de pressioná-lo porque ele quer parar de correr.

Chegando a esse ponto o domador deverá assumir uma postura submissa e abaixar os olhos deixando que os ombros fiquem em uma posição de 45° graus, assim ele irá vir até o domador ou irá parar de recuar. Se ele não se aproximar então o domador deverá se aproximar dele, mas deve fazer isso dando voltas e se ele se afastar deve o fazer dar mais voltas e repetir todo o processo.

No momento da conjunção; ao se aproximar do cavalo, o domador deve manter os ombros em 45° graus e mostrar as costas para ele. Nesse momento o cavalo deve encostar a cabeça no ombro do domador, continuando a conjunção. Quando se aproximar o domador deve fazer um bom afago entre os olhos se afastar-se em círculos.

Após realizar todos os movimentos deve-se levar o cavalo para o centro do redondel e começara apalpar o anterior do franco direito, massagear o pescoço, as costas, as ancas, o flanco, a fim de encontrar os pontos vulneráveis.

A partir daí, o equipamento deve ser colocado no centro do redondel e permiti o animal cheirá-lo. O domador deve ficar dando voltas entre o equipamento e o cavalo até que o animal prefira segui-lo ao invés de ficar com o equipamento. A partir deste momento pode amarrar a guia no cabresto dele e começar a encilhá-lo. Deve-se iniciar com a manta e sela sem fazer nenhum movimento brusco cuidadosamente vai apertando as barrigueiras de modo que a sela fique firme. Se em algum momento o domador se afastar, ao voltar deve trabalhá-lo até o momento da conjunção e acompanhamento (aproximação do animal), perceba se ele não deu nenhum sinal de rejeição. Afastar-se com cautela e fazê-lo se movimentar com o equipamento para ver qual a sua reação.

Deve-se fazê-lo trabalhar com o equipamento e só permitir que ele se aproxime ao perceber que ele o aceitou. Quando ele se aproximar o domador pode colocar o bridão (material de aço que e colocado na boca do cavalo) e deixando as rédeas folgadas, acertar os loros com os estribos e fixá-los na sela.

Ao passar as rédeas por baixo dos estribos (material de aço que fica agarrado na sela onde se coloca o pé para se montar no cavalo) uma alça de cada lado, deve-se permitir que dê para charretear [5] o cavalo fazendo com que ele ande para frente e para trás com o auxílio da guia longa para se acostumar com as rédeas e o bridão. Fazê-lo dar voltas para os dois lados a galope ou simplesmente andando. A essa altura o animal já pode ser montado pelo domador. Inicialmente deve-se somente apoiar com a barriga na sela e dar algumas voltas nesta posição, então o cavaleiro pode se sentar sobre o cavalo. Neste ponto terá sido alcançado o objetivo de fazer com que seu cavalo tenha aceitado a sela, rédeas, e o cavaleiro. O cavalo não ficará traumatizado e o animal vai preferir ficar com o cavaleiro ao a fugir do mesmo.

RELAÇÃO DE CONFIANÇA

Através do conteúdo apresentado até aqui, não é difícil notar as diferenças e peculiaridades entre estabelecer uma relação de confiança por intermédio da conquista pacífica e estabelecer um contato de subjugação de um animal por outro, onde o que prevalece é a lei do mais racional. A violência se torna então um mero detalhe e ou artifício nas mãos a pessoa que a emprega, sem qualquer respeito por outro ser vivo.

Por intermédio da paciência, da gentileza, do afeto e acima de tudo respeito para com um ser vivo, a rentabilidade de uma determinada relação é encontrada na reciprocidade entre homem e animal, tornando-se bem mais vantajosa e satisfatória para ambas as partes.

A violência aplicada na doma tradicional, a mesma utilizada pelo pai de Monty Roberts pode em algum momento se voltar contra o domador. Estresses e traumas são freqüentes em animais que passaram por esse tipo de doma, muitas das vezes irreversíveis e demonstram a violência do tratamento que tiveram.

A técnica desenvolvida por Monty Roberts, por sua vez, objetiva um tratamento a fim de estabelecer uma pura relação de confiança entre dois animais, independente de seu grau de racionalidade. O objetivo final é a reciprocidade entre homem e animal, uma troca satisfatória que muito recompensa o homem na utilização da força de trabalho do animal. Ao mesmo tempo aquele tem consigo um ser vivo dócil, confiável e que trará satisfação a seu proprietário.

Estamos falando acima de tudo de um respeito para com outro ser vivo, que há milênios é utilizado pelo homem nos mais diversos fins, e que muito pode ser útil se for adestrado aos moldes da confiança recíproca.

CONCLUSAO

Muito se diz que o “animal é o reflexo de seu dono”, essa afirmativa não deixa de ser verdade, ao passo que, estabeleço aqui a idéia de que a violência leva ao encontro da violência. O animal tratado com carinho e atenção é muito mais dócil, o que proporciona o estabelecimento de uma melhor relação de convivência entre as partes.

Vejo então na técnica desenvolvida por Monty Roberts, um caminho para o estreitamento das relações entre o eqüino e o humano, não como relação de subjugação, mas sim em uma relação de ser vivo a ser vivo na hierarquia de poderes onde o objetivo maior seria a reciprocidade.

________________ 
Redondelera a sala de aula para a "quebra" tradicional de cavalos. 
Estado xucro: faz referência ao estado selvagem do animal, geralmente quando encontrado na natureza. 
Quebrado: o cavalo deixa de resistir e deixa ser montado pelo cavaleiro e fica domado. 
Cabeçada especial: origem colombiana, onde é conhecida como bucal, com três pontos de pressão – chanfro, queixo e nuca. Uso indicado para doma de baixo, ensinando as lições básicas de caminhar, marchar (ou trotar, conforme o caso), volteios para ambos os lados, paradas precisas, transições de andamentos, recuo. Acompanha uma cilha com 4 argolas. No início as rédeas de corda (de mais ou menos 5m cada uma) passam pelas argolas inferiores. Quando o animal estiver totalmente sob o comando do treinador passarão pelas argolas superiores, que possibilitam mais liberdade aos comandos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

AREIAS, Wallace. Sociedade Protetora dos Eqüídeos. Disponível em: ttp://www.sopeq.com.br/domaR.html. Acessado em: 13/10/2008.
Doma Indiana. Disponível em:
p://www.aguasdelindoia.cc/rancho_sao_nicolau/doma_racional.php/doma_racional.php?pag=2 . Visitado em 02/10/2008.
Doma indiana Revista cães e gatos Pet e huses gestão e profisionalizaçaso do mercado pet Ano 18 numero 108 Junho/agosto 2006 Psaginas de 26 a 30
Projeto Doma. Disponível em:http://www.doma.com.br/. acessado em 15/10/2008.
Revista Encontro. Disponível em:http://www.revistaencontro.com.br/maio06/rural/tecnica_rural.asp . visitado em 29/09/2008
Revista Horse Business. Junho de 2001 Ed. 73
Revista Cavalos: de raça e esporte. Ano I, Nº 11.
ROBERTS, Monty. O homem que ouve cavalos. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 343 p. ISBN 8528608018 (broch.)

Orientador:
Drª. Manoela Lopes Pimentel
Banca avaliadora:
Professora Dr. Manoela Lopes Pimental
Professor Dr. Leonardo betoni
Maria de Fátima Andrade Costa Henriques

Iluminismo o morto vivo


By Douguera

São inúmeras as definições para esse conceber filosófico no qual a “luz da razão” é a sua jugular referencial. Immanuel Kant, filósofo alemão, definiu o iluminismo como “a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos”, [1] uma vez que estes foram incapazes de produzir conhecimento sem a orientação de outro. Para Kant isso se deu pela falta de coragem para usar o intelecto.

O fato é que essa filosofia, que se estendeu das últimas décadas do século XVII aos últimos decênios do século XVIII, é uma filha de seu tempo. Resultante das forças conjunturais de uma época em que a fé incondicional a um Deus não mais aplacava os anseios do homem e a ciência se fixava cada vez mais como a luz que ilumina as trevas, seus valores servem de referência até os dias de hoje.

O iluminismo morreu de forma a ser impossível ressuscitá-lo, mas, ao mesmo tempo, é impossível sepultá-lo. Seus valores continuam sendo essenciais. “Qualquer um que tenha contas a ajustar ou uma causa a defender começa pelo iluminismo”[2], bem esclarece Robert Darton, historiador norte americano. Ao mesmo tempo não pode ser usado indiscriminadamente para escrever a história da civilização ocidental.

Qualquer um hoje que opte em perder um domingo de oração religiosa para estar em uma sala de aula a fim de concorrer uma vaga dentro de universidades federais; que prefira um MP10 com celular de 2 chips, câmera com flash, TV grátis, tela de 2.4, teclado QUERTY, WAP, Bluetooth e quad band em detrimento de uma carta.; que hasteie a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade esta incondicionalmente recorrendo aos valores do iluminismo.

Para os ditos pós-modernos que acusam o iluminismo de mascarar a hegemonia do ocidente; de ser um imperialismo cultural disfarçado de racionalidade, de alimentar uma fé excessiva na razão, fonte de inspiração para o totalitarismo de não tratar das mulheres e do meio ambiente, cabe a mim lembrá-los de que cospem no prato em que comem, pois querendo ou não, direta ou indiretamente acabam por tomar banho na mesma fonte.

O iluminismo é um morto vivo. Pertenceu há seu tempo e que assim seja, mas, sua herança e seu legado permanecem corrente nas diversas formas de pensamente do mundo, como um vírus que se propaga pelo ar e altamente contagioso. Se um dia vamos enterrá-lo?! É melhor que seja em cova profunda. 
[1] Immanuel Kant.
[2] Robert Darton.

Bibliografias:
DARTON, Robert. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Carlos Couto. São Paulo: Companhia das letras, 2005 (1 ed. Norte americana 2003)

KANT, Immanuel. Beantwortung der frage: Was ist Aufklärung. (1789).

SÁBADO, 11 DE JULHO DE 2009

John Gray: al-Qaeda e o que significa ser moderno


“o mito moderno é que a ciência capacita a humanidade a tomar conta do seu destino, mas a própria ‘humanidade’ é um mito, um resto empoeirado de fé religiosa. Na verdade, só há pessoas humanas, que usam o crescente conhecimento propiciado pela ciência na busca de seus fins conflitantes.”

John Gray é seu nome, Al-qaeda e o que significa ser moderno é a sua obra. Fui me atentar a valorosa leitura deste livro quando me ative a ler um de seus capítulos: A metamorfose da guerra, e então parti para desbravá-lo. E é claro que eu não poderia deixar de comentar, uma vez que essa rica obra me agregou valores e conhecimento fundamentais na compreensão da chamada história do tempo presente.

John Gray é professor de Pensamento Europeu na London School of Economics, é colunista do jornal britânico The Guardian. Publicou também O Falso Amanhecer; Cachorros de Palha; A Morte da Utopia; Two faces of Leberalism entre outros. Esteve também ligado à Nova Direita, que influenciou decisivamente a ascensão de Margaret Thatcher na Inglaterra.

Deixamos sua paixão direitista de lado e partamos para a obra. O livro abre a discussão fundamental sobre a crença da modernidade como condição única e vital. Ao passo que as sociedades enquanto modernas seriam mais parecidas e tornar-se-iam melhores, a pobreza e a guerra, poderiam ser abolidas com o poder conferido pela luz da ciência, a humanidade então, racional que seria em seu fervor, seria capaz de criar um mundo novo. Ser moderno é de fato, portanto, “realizar nossos valores – os valores iluministas, como gostamos de pensar.”

Acreditar, como os positivistas acreditavam, que a expansão do conhecimento científico e a emancipação da humanidade caminham de mãos dadas, para Gray, é um fiasco. A experiência soviética com o comunismo e alemã com o nazismo, em pólos ideológicos antagônicos, significaram a tentativa desastrosa de corporificar o ideal iluminista de um mundo liberto. Ambos praticaram os piores atos de genocídios da humanidade. E não é diferente com a al-Qaeda com o então 11 de setembro de 2001.

“o comunismo soviético foi concebido no coração da civilização ocidental. Não poderia ter-se originado em nenhum outro meio. O marxismo é apenas uma versão radical da crença iluminista no progresso – ela mesma uma mutação da esperança Cristã.”

“Tanto em escala quanto no objetivo de fazer surgir uma humanidade nova e socialista, o terror soviético foi unicamente moderno. O mesmo é verdade no caso dos genocídios nazistas.”

“... A idéia predominante do que significa ser moderno é um mito pós-cristão. Os cristãos sempre sustentaram que há apenas um caminho para a salvação, revelada na história e aberta a todos...”

“Não apenas no uso das tecnologias de comunicação que a al-Qaeda é moderna. Também é moderna sua organização. A al-Qaeda lembra menos as estruturas de comando centralizado dos partidos revolucionários do século XX que as estruturas celulares dos cartéis de drogas e as redes planas das empresas virtuais. Sem sede fixa e com membros ativos em praticamente todas as partes do mundo, a al-Qaeda é uma multinacional global.”

Como toda boa obra, o livro de John Gray abre um leque de problematizações que dificilmente passam pelos “lugares-comuns” da história. Tem lá seus buracos e lacunas mas, é ao mesmo tempo o que torna o texto mais degustável as mentes abertas. Sendo esta uma valiosa contribuição interpretativa para a história do tempo presente.

SÁBADO, 4 DE JULHO DE 2009

Suando Frio


By Douguera 

Se existiu um momento na história da humanidade no qual se pode literalmente suar frio, foi na guerra fria. Para uns a “terceira guerra mundial” [1], para outros uma “guerra fria” e para mim um choque entre ideologias, capitalismo e comunismo, demasiadamente sábias para destruírem o mundo e a si mesmo em uma guerra nuclear.

“Fria” porque não houve um confronto direto entre as duas superpotências bélicas, EUA e URSS. O fato é que uma das peculiaridades desse momento específico da história da humanidade era o medo da destruição mutua que levava, em termos objetivos, a não existência de um perigo eminente para uma guerra declarada em proporções mundial. Fazendo com que os dois países aceitassem a divisão desigual do mundo, e quando os ânimos se esquentavam faziam todo esforço para resolver disputas de demarcação sem um eventual choque entre suas forças de destruição incineradoras de homens.

A tensão de nervos entre americanos e soviéticos, subproduto da guerra fria, foi basicamente produzida pelos respectivos serviços de inteligência (se é que podemos assim classificá-los) CIA e KGB. Esses organismos governamentais produziram uma grande gama de alarmes e serviram para que Stalin confinasse muito de seus opositores nos campos de concentração da Sibéria e para que o anticomunista, senador americano Joseph McCarthy, promovesse a chamada “caça às bruxas”, levando ao desespero muitos intelectuais e artistas de Hollywood acusados de serem simpáticos à Moscou (nem a terra dos sonhos escapou da guerra fria).

Os dois lados se viram amplamente compenetrados em uma corrida armamentista, uma insanidade só. E as armas nucleares, em uma visão cristã, “graças a Deus” que não foram utilizadas, todavia ambos utilizaram a ameaça nuclear como fonte de força intimidadora de suas ideologias com fins de negociação.

Havia uma certeza de que nem EUA e nem URSS iriam de fato querer relembrar os horrores de Hiroshima e Nagasaki, que tristemente serviram de exemplos, em modo lato senso, para que o homem não bebesse nunca mais de seu próprio veneno.
Rosa de Hiroshima
(1973)

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária

A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

[1] “A guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida” (HOBBES, Thomas, capítulo 13)

Referências Bibliográficas:

MORAES, Vinícius de; CONRAD, Gerson. Rosa de Hiroshima. Disponível em:http://www.paixaoeromance.com/70decada/rosa_iroshima/h_rosa_de_hiroshima.htm. Acesso em 04/07/2009.

HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. 2. ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 598 p.

"Vacas gordas" acabam no brejo


By Douguera

Períodos de vacas gordas são bem perceptíveis na história das sociedades, o de vacas magras então, nem se fala. A sociedade capitalista em si (aqui me refiro restritamente a países desenvolvidos) passou por trinta maravilhosos anos de graúdas vacas, que alguns gurus da economia gostam de chamar de “anos dourados”. Esse momento de pujança econômica pertenceu essencialmente aos países capitalistas desenvolvidos, aos subdesenvolvidos restaram as pastagens.

A reforma da fachada do capitalismo, no pós-guerra, “ao ponto de ficar irreconhecível” para os cegos e o avanço da internacionalização (leia-se aqui globalização) da economia, foram de fundamental importância para a engorda. Significou basicamente uma noite de núpcias, resultado do casamento entre a democracia social e o liberalismo econômico. Cerimônia presidida por governos conservadores moderados, não eram mais aqueles brucutus de outrora.

Uma revolução tecnológica, fruto da Segunda Grande Guerra, parecia alimentar o surto econômico. A consciência do consumidor foi moldada de tal maneira que as novidades tecnológicas se tornariam o principal recurso de vendas, e o que não era novidade dar-se-ia um jeito.

A conseqüência disso foi dias de vacas gordas: aumentou os financiamentos externos e de forma opulente o fluxo de comércio mercadológico; houve uma efervescência das empresas transnacionais. Malthus deve ter se remoído na sepultura quando descobriu a escalada significativa da produção de alimentos em todo o mundo e subiu também a produção de manufaturados. A classe média pode agora usufruir de muitos confortos antes restritos aos ricos.

Bem, claro que algo teria de servir de ração concentrada à crescente engorda, assim a ação antrópica foi notória. A poluição teve como responsáveis diretos e indiretos os países desenvolvidos com um forte impacto sobre as áreas urbano industrial. A concentração de dióxido de carbono, que aquecem a atmosfera, praticamente triplicou entre 1950 e 1973 (World Resources, 1986, tabela 11.1, p. 318; 11.4, p. 319; Smil, 1990 p. a, fig. 2). Foram despejados na atmosfera até 1974 uma média de 400 mil toneladas de clorofluorcarbonos, produto químico nocivo à camada de ozônio (World Resources, 1986, tabela 11.2, p. 319). Um ruminante tem que defecar.

A Europa só foi tomar sua prosperidade como coisa certa na década de 1960 e ao mesmo tempo via-se a distância, em caráter econômico, entre o capitalismo e o comunismo. E os sábios gurus da economia só foram se dar conta que o mundo, em particular capitalista desenvolvido, passava por uma fase excepcional no final da década de 1970.

A era de ouro, a vaca gorda da sociedade capitalista ocidental, necessitava cada vez mais de investimentos, cada vez menos de seres humanos a não ser consumidores. Dependia do esmagador domínio político econômico dos Estados Unidos que, muita das vezes sem pretender, atuavam como asseguradores da economia mundial.

Como nos “booms” anteriores os anos dourados acabariam em bancarrota de imóveis e bancos. A década a partir de 1973 seriam novamente períodos de vacas magras, porque a gorda foi pro brejo.

Referências Bibliográficas:

World Resources. Disponível em: http://www.wri.org/. Acessado em 04/07/2009.

HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. 2. ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 598 p.

SÁBADO, 27 DE JUNHO DE 2009

A al-Qaeda e um novo tipo de guerra



By Douguera

A fraqueza do Estado é a principal fonte de nutrientes do Terrorismo. Então até que ponto se justifica a política norte americana contra o terror? A al-Qaeda, que alguns gurus ocidentais gostam de chamar de “grupo terrorista fundamentalista Islâmico”, tem sua semente na guerra fria. Durante a década de 1980 quando a então URSS invadiu o Afeganistão, a resistência afegã foi possível graças ao patrocínio dos EUA, Arábia Saudita e de alguns governos europeus.

E a cria voltou-se contra o criador. O preceito de que grupos terroristas são locais e regionais não pode ser mais aplicado a ela, não segue mais uma jurisdição. Ironicamente e de forma contraditória à sua “cruzada”, ela se globalizou, se espalhou pelo mundo, sendo capaz de funcionar em forma de células do Japão a América latina usando celulares via satélites, computadores portáteis e sites codificados pela rede mundial de computadores, totalmente modernizada. Ela fomenta um novo tipo de guerra, que o autor inglês, John Gray, chama de guerra não convencional – travada não mais entre Estados, mas sim protagonizada por grupos políticos, milícias, grupos étnicos, fundamentalistas dentre outros onde os alvos de ataques são funcionários do governo e civis.

Ela se tornou, em amplo parâmetro, global em seus objetivos: seu objetivo estratégico, limitado e concreto, é o de promover a derrocada da casa de Saud (o regime saudita que tem, em caráter econômico, papel preponderante no mercado financeiro global, principalmente em investimentos e no fornecimento de petróleo ao motor dos EUA). Tendo lógica compreensão da vulnerabilidade da sociedade industrial do ocidente a al-Qaeda sabe que destruindo o regime saudita, expurgará os infiéis do solo sagrado. Assim sendo, a lógica de sua meta exige que seja mundial, se chocando diretamente com o poderio norte americano e o ocidente em potenicial.

A crença de que o Ocidente sofre de uma grande fome espiritual, alimenta o pensamento dos seguidores da al-Qaeda e dentre seus lideres personificados, Usāmah Bin Muhammad bin 'Awæd bin Lādin, vulgo, Osama Bin Laden. Nascido em Riad, na Arábia Saudita, décimo sétimo dos cinquenta e dois filhos de uma família de quatro esposas e numerosas concubinas. O pai, rico empresário da construção civil e muito envolvido com negócios internacionais. A mãe era síria e divorciou-se do marido logo após o nascimento de Bin Laden. Especula-se que Osama se ressentiu da condição inferior imposta pela família à mãe e, em conseqüência, a ele. Dizem também, que criado no luxo, Osama teve uma vida de play boy, gozando da liberdade do Líbano enquanto estudava e comprando “um ostentatório de Mercedes SL 450 amarelo-canário, com interior alaranjado escuro, ar condicionado, controle eletrônico de velocidade e janelas automáticas”.[1]

Até o presente momento não posso, na qualidade de pesquisador e na carência de documentos, avaliar a exatidão dessa história e também não é meu objetivo aqui. O fato é que o homem mais procurado do mundo, apesar de ser identificado à al-Qaeda, não a criou. Todavia foi o arquiteto do “maior atentado terrorista de todos os tempos”: 

“08h45min da manha em Nova York, 09h45min da manha em Brasília. Um avião americano de passageiros batia de cheio numas das torres doWorld Trade Center. Um acidente tão inimaginável que imediatamente chamou a atenção de todo o planeta, mas não era acidente, para a perplexidade do mundo inteiro foram se registrando acontecimentos que nenhum roteirista de Hollywood imaginou e era tudo real. Estava começando o maior atentado terrorista de todos os tempos.”[2](Fátima Bernardes – JN, 11/09/2001)

O 11 de setembro de 2001 prova que a maior potência bélica do mundo é vulnerável a um ataque em proporções avassaladoras. Não foram ataques como os de outrora, foram atos de guerra global, um exemplo atroz de como o fraco objetiva fustigar a venerabilidade do forte e demonstraram que a guerra não convencional, de Gray, atingira o nível global.

Para o Ocidente e quase impossível compreender a solidariedade suicida de um terrorista. E para os EUA e a política de George W. Buch, em sua ação unilateral, restou o aumento desmedido do antiamericanismo. Combater a al-Qaeda não é como combater o IRA (Exército Republicano Irlandês), ambos grupos terroristas que ostentam ideologias calçadas em doutrinas religiosas. Em 28 de julho de 2005 o IRA anunciou o fim da luta armada após o desmantelamento prisão e morte de seus principais lideres, todavia a al-Qaeda é uma rede flexível o suficiente para sobreviver no caso da morte ou da incapacidade de Osama e ainda com uma formidável capacidade de auto-renovação. Para os EUA e outros Estados liberais resta a vigilância onerosa e constante, que no esforço de encontrar terroristas em potencial em seus territórios e também fora deles, submetem a população a uma monitoração constante. “o preço do individualismo está sendo a perda da privacidade.”[3]

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