sexta-feira

A Primeira Grande Guerra


By Douguera

A Primeira Guerra Mundial, disse François Furet[1], em nada se pareceu com a Segunda. Ninguém previa uma guerra provocada pelo afloramento de sentimentos nacionalista. O povo daquela época, assim como o de hoje, estava inserido na ótica do mercado: liberdade individual, a felicidade privada e o enriquecimento o que fez com que esses “homos economicus” estivessem espiritualmente despreparados para a guerra.

O homem econômico tem um papel central, mas não é o ator principal do conflito; o capital tem seu lugar marcado no Hall das desgraças da humanidade, todavia não deve ser o bode expiatório. A guerra só foi aceita em amplitude e plenitude por razões nacionalistas – a origem imediata parte das questões nacionalistas nos Bálcãs, perceptivo no sentimento de patriotismo que levou os homens ao fronte de batalha. Era, por assim dizer, o sentimento mais bem compartilhado naquele momento que se alastrava nação a nação. No caso da Alemanha em especial havia um forte amor pela “raça” que era expresso no movimento pan-germânico[2]. 

Podia si ver indo para o campo de batalha: a paixão da honra militar, o sentimento de nação e, a fé sega na ciência. A paixão da honra militar, sentida nas guerras revolucionárias, segredo do sucesso e das glórias dos exércitos de Napoleão, sobreviveu ao tempo; o sentimento de nação que vem dos séculos dos reis, anteriores até mesmo as democracias e a sociedade capitalista burguesa, também estava vivo; e a ciência, maior substituta da religião no século XIX, trouxe a justificativa para o pan-germanismo, retirando do evolucionismo darwinista a idéia de seleção natural e da espécie mais forte.

E entre o ataque de Sarajevo[3] e as decisões mobilizadoras, no mês de julho de 1914, era muito possível parar a engrenagem da máquina que levaria a matança. Ninguém o fez, todavia, então seu desencadeamento se deveu, em termos, digamos puramente técnico, pelo déficit da ação arbitrária diplomática. A guerra poderia também ser encurtada se um dos beligerantes tivesse a capacidade de se impor, no entanto quando a guerra foi parar nas lamacentas trincheiras há um prolongamento do embate, para lançar os dados de uma média de 30 mil mortes a cada 200 metros[4]. Assim podemos notar seu caráter interminável pelo infeliz equilíbrio das forças.

Em poucos meses de conflito: acabara o exército profissional e também não se via sua relação custo benefício, mesmo assim ela se arrastou por longos e sangrentos anos, inaugurando o ciclo das grandes tragédias que marcariam o século XX.

A guerra acaba e os ditos vencedores não têm uma concepção comum para a nova ordem mundial. E o Tratado de Versalhes[5], assinado em 28 de junho de 1919,fidelidigno as promessas feitas no calor do combate, tendeu a um caráter punitivo e vingativo em detrimento de ser um mediador das relações causa conseqüência, fazendo com que o terreno ficasse fértil para o totalitarismo, semente da Segunda Grande Guerra.

[1] François Furet. Historiador francês nascido em Paris, um dos principais estudiosos da Revolução Francesa
[2]O pan-germanismo foi um movimento político e sociocultural do século XIX, que
buscava a união de todos os povos germânicos.
[3]Sarajevo (por vezes Saraievo) é a capital e a maior cidade da Bósnia e Herzegovina. Palco do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do império Austro húngaro.
[4] FURET, François. O passado de uma ilusão. Pg. 62.
[5] O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial.


Bibliografias:
Esqueletos de soldado alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial, encontrado em Violaines, na França. Disponível em http://www.lucianomarinho.com.br. acessado em 24/05/09.
FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914 - 1991. Tradução Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 20001.

SÁBADO, 23 DE MAIO DE 2009

Você é um burguês?


By Douguera
O ódio ao burguês é tão velho quanto o próprio burguês. A muito, ele é considerado o bode expiatório das desgraças do mundo e sobre seus ombros recaíram, e recaem, um desprezo temperado a um ódio discriminador. A igreja os via como adoradores do demônio por praticarem o lucro e a usura; os escritores românticos, em suas obras, lhes deram papéis de vilões; comunistas e nazistas, em suas respectivas conjunturas, deram ao burguês o título de “inimigo público número um”. E por fim acabaram por serem odiados por eles mesmos.

Uma classe social sem status, sem tradição e declaradamente sem honra, ela apenas ostenta um título, por sinal muito frágil à dominação: a riqueza. Mas, horas vejamos, qualquer um, imbuído de seus esforços, pode ser, assim como também pode deixar de ser rico. Poderia ela ostentar todo dinheiro do mundo, todavia esse dinheiro não lhe assinala nenhum lugar, o dinheiro não vai comprar ou provar sua “virtu”. 

Em seus idos de revolução o burguês defendeu com todas as suas forças a igualdade e a universalidade dos homens, que foram, de forma significativa, esboçados no lema “
liberté, egalité e fraternité”[1],todavia, acabaram por se embebedar e afogar em sua própria contradição, da desigualdade produzida pela sua riqueza e pela virulenta progressiva competição entre seus próprios irmãos. Assim, a idéia de igualdade não passou do horizonte imaginário dessa classe e o burguês acaba por se tornar infiel a seus próprios princípios. 

Em suma o que o burguês inventou voltou-se contra ele com tanta violência a ponto de terem seus corpos humanos trucidados pelos regimes totalitários – aqui me refiro ao massacre dos judeus pela Alemanha nazista e a violência do regime de Stalin na URSS. Ele um dia derrubou a aristocracia de seu trono, no entanto acabou por incorporar essa mesma aristocracia; a igualdade e a liberdade o apavoram, a ponto de lhes causar calafrios; foram arquitetos da democracia, mas seus governos descaradamente sujeitos a corruptibilidade, minam suas bases de forma a fazer 
Clístenes [2] remoer-se na sepultura.

O dinheiro faz o burguês ser odiado. Volta-se contra ele o preconceito da aristocracia, o ciúme e a inveja dos pobres e um profundo alargado desprezo dos intelectuais. Um ódio que tomou proporções avassaladoras com o comunismo e com o fascismo. O culto a nação, cuja incrível força foi mostrada pela Primeira Grande Guerra, fundiu-se em uma vontade política libertadora, que afloraram de forma surpreendente e nuca vista antes em forma de ideologias apaixonantes: esquerda e direita, (respectivamente comunismo e fascismo) abrem um vasto campo de movimento anti-burguês e suas diferenças acabaram por serem diluídas na Segunda Grande Guerra.
Mas, o que quero de fato é por uma pedra no seu sapato: Em uma definição marxista o burguês é aquele que detem a posse dos meios de produção, todavia, já podemos, e isso é mais que perceptível, falar na existência de um modelo comportamental no qual também podemos usar para definir um burguês. Por fim, todo aquele que prega a idéia de igualdade e liberdade pode ser chamado de um burguês em potencial e no mínimo um simpatizante. Ao preservar valores como o de igualdade, liberdade e individualidade não estaríamos sendo tão burguês quanto os próprios burgueses? Deste modo a própria existência da sociedade burguesa não passaria de um mito e acabamos por nos fazer e se tornar inimigos de nós mesmos.


[1] liberté, egalité e fraternité. Lemas da Revolução Francesa de 1789.
[2] Clístenes - Legislador ateniense considerado o fundador do sistema democrático em
Atenas, também conhecido como o “pai da democracia”.

Bibliografias:
FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.
SOARES, Geraldo Antonio. A utopia liberal: um ensaio sobre a historicidade do mercado como regulador econômico social. Vitória: Edufes, 2000
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QUINTA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 2009

“De boas intenções, o inferno está cheio”

By Douguera 

Pode-se se chamar o evento soviético, no integral da palavra, de uma Revolução? De uma forma concreta ela ocorreu, todavia se ela foi fidelidigna em esplendor a seus dogmas socialistas, isso não se pode dizer. Foi a Revolução que Marx preconizou? Claro que não. A que Lênin queria? Certamente que não. Por mais degenerada que essa esperança possa ter sido, a Revolução Socialista deu no que deu: no exemplo soviético. E mesmo tendo ido parar na mesa de autópsia dos cientistas, ela acabou por criar adeptos no ocidente.

Filhos legítimos da Guerra de 1914, que alguns países capitalistas persistem em não assumir a paternidade, o totalitarismo soviético vai herdar das trincheiras o hábito de violência, a simplicidade das paixões extremas e a submissão do indivíduo ao coletivo. Ele não dependeu do interesse social das massas para se manter no poder, embora tenha subido por elas, são os interesses das massas que vão depender dele. E o Stalinismo cumpre seu papel histórico sombrio de um regime ditatorial, terrorista ideocrático, ceifando vidas humanas. Ele não matou tanto quanto o totalitarismo alemão, matou mais. Em uma perspectiva mais analítica, o totalitarismo stalinista contribuiu para o desenvolvimento do totalitarismo de Hitler; em matéria de violência Stalin abre caminho para Hitler se justificar.


Assim como no totalitarismo Italiano e Alemão não foi diferente com o soviético, as paixões coletivas se encarnaram em personagens desgraçadamente excepcionais. Primeiro Lênin, formidavelmente culto aos moldes da Europa discípulo de Marx e depois Stalin, seguidor de Lênin. 

Com a morte de Lênin houve um grande medo de que a Revolução fosse sepultada com seu líder, mas Stalin, a seus moldes e cheio de boas intenções, deu seguimento a Revolução segundo a qual a violência não passou de uma finalidade ética que identificou o militante revolucionário como um herói. Ou você era um revolucionário, ou um contra-revolucionário, simples assim.

O regime era algo inédito no século XX dentro das experiências concretas do repertório dos manuais de política e dos tipos de governo. Traçou traços absolutamente novos na Europa e no resto do mundo, levantou edifícios que pareciam inabaláveis, mas acabaram por ruir em si mesmo e ainda hoje estamos por pisar em cima de seus escombros.

Bibliografias

BARRAQUI, Douglas. A interpretação da realidade: metodologia da história. Disponível em: http://dougmahistoria.blogspot.com/2008/12/interpretao-da-realidade-metodologia-da.html. Acesso em 14/05/09. 
FERRO, Marc. A Revolução Russa 1917. São Paulo, editora Perspectiva.
FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.
TRAGTENBERG, Mauricio; PINSKY, Jaime. A revolução russa4. Ed. - São Paulo.

SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2009

Balançando Entre a Ciência e a Arte


By Douguera

Hayden White, historiador estadunidense, publicou na década de 70 a obra Meta Histórica, seu objetivo era a discussão a mercê da “artistica-essência” da história com referência ao ofício do historiador. Segundo White, a história seria um tipo específico de discurso, uma alegoria verbal em prosa sobre o passado, sendo ela, logo, assim como as fontes, nada mais nada menos do que representações do que denominamos passado. A história então, não seria uma ciência nem aqui nem lá na China, estando ela a flertar com a arte. Propriamente dito seria um tipo específico de arte.

Pois bem, sendo assim nós historiadores somos artistas. Não? White diz que os historiadores são responsáveis por fazer a reconstrução do passado em versos, por meio de uma linguagem figurativa, as vezes técnica, outras, racional e científica e há uma intrínseca diversificação de acordo com a circunstância de cada momento. A história vivida pelos vivos, ou melhor, os contemporâneos “do seu próprio tempo” não encontravam um sentido ou mesmo uma lógica interna para não dizer uma racionalidade do que estavam presenciando como testemunhas oculares de seus respectivos momentos. Sendo os historiadores, quando reconstroem o passado, responsáveis por dar margem à explicação, trazendo sentido aos acontecimentos acontecidos.

Assim sendo a narrativa não seria apenas a capitação de dados passados, mas sim a reconstrução de uma visão de mundo do historiador e isso é um fado inegável, pois todos querendo ou não, sabendo ou não temos visões de mundo.

No final dos anos sessenta (O marco seria os movimentos estudantis de 1968, na França e em outros países) o iluminismo, o marxismo, o positivismo, então modelos teóricos do século XVIII e XIX, cairiam em bancarrota de crédito. Em parte significativa, confirmou um distanciamento, bem enorme, dos historiadores das questões teóricas metodológicas de seu ofício. Resumindo: se a história não era uma ciência agora então, nesse momento de crise do discurso histórico e das teorias, é que não é mesmo.

Então, Jörn Rüsen, com o livro, Razão Histórica, trás a tona o debate a respeito da narrativa e do sentido histórico, fomentando uma reavaliação das teorias da história, delineando suas características e o seu papel para o ofício do historiador, batendo de frente com White quanto à cientificidade da história.

Dentre as questões propostas por Rüsen, como: definir o sentido histórico, assistir o estatuto da cientificidade e da racionalidade da disciplina história e pensar nas questões de cunho progresso da história como processo; eu destacaria a fomentação de uma “matriz disciplinar”. O objetivo da teoria da história é (se tornar) uma “matriz disciplinar da ciência histórica, a razão para tanto, é devido a falta de orientação da razão histórica, diria eu, da razão de existir da história, trazendo a tona “o que, em que consiste o pensamento histórico como fator importante para a vida prática”.

A teoria da história, teria que aprender os fatos e os pontos determinantes do conhecimento histórico, que delimitariam o campo de pesquisa. Essa “matriz disciplinar” agruparia em seu corpo cinco elementos principais: formas, funções, métodos, idéias e interesses. Isso seria nada mais nada menos do que uma aplicação teórica a fim de buscar a racionalidade da construção do sentido da história. Logo, a história será, ao contrário do que White pensa, uma ciência porque ciência é método.

Rüsen observa que a racionalidade, o sentido, o progresso é que delimitam as características do processo histórico. Alfineta White, que tentou fazer da história um artefato discursivo em forma de prosa, sendo deste modo um tipo específico de literatura. Questiona até que nível chegaria a verdade e a cientificidade do processo histórico, enquanto limitado a um tipo de arte. Encara Fernand Braudel e Marc Bloch, que acreditam que a história é uma “ciência em marcha”, uma “ pesquisa científica conduzida”, aqui eu diria que Rüsen é um extremista de sua causa, objetivando demonstrar os níveis de cientificidade da pesquisa histórica, querendo provar que a história é sim uma ciência, ainda que, disse ele, peculiar.

Por fim, Rüsen objetivou provar que a história quando conduzida por meio de procedimentos teóricos e empíricos, esta se transforma em um tipo específico de ciência. É nesse sentido que a teoria da história teria um papel fundamental na formação didática científica dos historiadores.




Bibliografias:

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. 159

RÜSEN, Jörn. Razão histórica: teoria da história : os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. 194 p.

RÜSEN, Jörn. Reconstrução do passado: teoria da história II : os princípios da pesquisa histórica. Brasília: Ed. UnB, 2007. 187 p.

TORQUATO, Ronaldo. Monstros. Obra de arte em forma de pintura disponível em: http://www.ronaldotorquato.com/. Acesso em 09/05/09.

WHITE, Hayden V. Meta-história: a imaginação histórica do século XIX. v..v. 4. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1995. 456 p.

TERÇA-FEIRA, 21 DE ABRIL DE 2009

Annales By Douguera



Em oposição ao marxismo e a seu levante da massa proletária e ao conservadorismo exacerbado do pensamento positivista é que surge a corrente de pensamento Annales. Buscando uma história totalizante a revista dos Annales, fundada em 1929, por Marc Bloch e Lucian Febvre, trouxe uma nova abordagem para o estudo da história que até hoje pode ser sentida em caráter de influências e conseqüências. Retomando momentos históricos que foram sufocados pelos positivistas, ela saqueou as disciplinas do homem, sendo, portanto interdisciplinar para trazer a tona a reflexão e a prática técnica da história.

Por intermédio da interdisciplinaridade a história foi retirada de seu isolamento, fazendo com que novos problemas e metodologias, existentes em outras ciências sociais, fossem fagocitadas pelas formas de pensar em história: novos conceitos, inflexões, isso é claro, respeitando limites sem deixar corromper uma disciplina pela outra. Ao mesmo tempo em que se pensava em uma unidade de construção entre a história e as ciências sociais era reivindicado uma história de caráter científica experimental. A “história problema” e a “historia totalizante” (ambição dos marxistas bem antes dos Annales), surgem em detrimento à opulência da “narrativa histórica” e as “histórias parciais”.

Vai ser a obra do sociólogo François Simiand e de Henri Berr, a “Revue de Synthèse historique”, que terá grande influência no pensamento da escola dos Annales. Esse importante artigo, publicada em 1903, vai colocar em debate a metodologia tradicionalmente utilizada em história. O autor acreditava que seria possível uma unidade metodológica para todas as ciências sociais, dentre elas a história.

A escola dos Annales se dividiu basicamente em três fases, configurações que são fundamentais de serem compreendidas:
1. A primeira fase: “revolucionária”, para uns a mais inteligente e sensível, no contexto entre guerras, foi um momento de rompimento com a história política e dos simples eventos.
2. A segunda fase: após a II Grande Guerra, os Annales são uma corrente forte e poderosa, aproximam-se de uma “escola”; com conceitos (estrutural e conjuntural) e novos métodos ( História serial das mudanças na longa duração). Aqui se destacou Fernand Braudel.
3. A terceira: consegue exercer uma grande influência sobre a historiografia e por que não sobre o público leitor é marcada pela fraguimentação que, comumente chamamos de Nova História ou História Cultural.

O projeto era uma história que, em meio a suas propostas, fragmentos ou inflexões, apontasse para uma atuação mais ampla, rigorosa e interdisciplinar. Baniria de uma vez a “narrativa histórica” para instâncias secundárias. Todavia, mesmo com sua notória interdisciplinaridade, plasticidade e democracia os Annales não conseguiram vencer as limitações, dentre os quais não enfrentaram o presente. Além do mais, não que se possa chamar de defeito, não assistiam de uma visão progressista continuista da história, refutando a idéia de progresso e de revolução em grande parte.


Bibliografias Relacionadas:


BRAUDEL, Fernand. HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS. Editorial Presença, Lisboa, 1972.
BLOCH, Marc Leopold Benjamin – “Os reis taumaturgos: O caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra “ São Paulo, Companhia das letras, 1993,
FEBVRE, Lucien. COMBATES PELA HISTÓRIA. Editorial Presença, Lisboa, 1985.
GOFF, Jacques; NORA, Pierre (org.). HISTÓRIA: NOVOS PROBLEMAS, NOVAS
ABORDAGENS, NOVOS OBJETOS. Francisco Alves, 3 vol., Rio de Janeiro, 1976.
LOWY, Michael . AS AVENTURAS DE KARL MARX CONTRA O BARÃO DE MUNCHHAUSEN.
Busca Vida, São Paulo, 1987.
REIS, José Carlos – “Escola dos Annales – A inovação em história”. São Paulo , Paz e Terra, 2000.
REIS, José Carlos. NOUVELLE HISTOIRE E TEMPO HISTÓRICO. Ática, São Paulo, 1994.

SÁBADO, 11 DE ABRIL DE 2009

Positivismo By Douguera





Fundamentado na cientificidade e na organização técnica da sociedade moderna o positivismo encontra na experiência - análise e observação - a única forma de se chegar à verdade empírica. Idealizada pelo filósofo francês Auguste Marie Fraçois Comte (1758-1857), essa corrente de pensamento se fazia contrária à metafísica, defendendo que somente os fatos e fenômenos perceptíveis devem ser a razão do conhecimento. 

Dentre as suas diversas premissas, destaca-se o fato de considerar que as sociedades humanas passam, de forma incondicional, por três estágios no decorrer de sua evolução.
  1. O estágio mitológico; identificado nas comunidades primitivas;
  2. O estágio teológico; perceptíveis em sociedades que se estruturam dogmaticamente em torno de religiões, a exemplo da sociedade cristã medieval;
  3. O estágio moderno; ocorrendo o afloramento das bases reacionais com o abandono do metafísico, como as sociedades industriais contemporâneas.

O positivismo teve um papel fundamental durante a transição monarquia república na História do Brasil, minando importantes setores das elites, sobre tudo o exército que defendia um poder forte e centralizador no executivo (ditadura republicana), capaz de fazer com que o país ultrapassasse o teológico e chegasse ao moderno sem seguir o modelo liberal, para tanto o governo tinha que ser capaz de combinar a ordem comprogresso, lema de nossa bandeira. 

O positivismo em História

Para as concepções de História sua aplicabilidade seria desarmoniosa, por isso para alguns, o positivismo em História, também conhecido como "escola metódica", seria uma “História de segundo grau”, não teria sido uma ciência, e sim distúrbios.

“O passado já passou nada temos que nos meter”. Assim o positivismo considera que as ciências naturais, que detém o conhecimento objetivo, seja o viés plausível de sua lógica epistemológica. A metodologia da História, portanto seria a mesma das ciências naturais e deveria estudar seu objeto da mesma maneira, com a esperada neutralidade e sem juízo de valores, logo a separação entre fatos e opinião quanto a isso, seria algo imprescindível.

É, portanto, por trás dos dados objetivos, nada de subjetivismo, que se esconde a doutrina positivista. Em uma concepção ampla, a sociedade seria regrada por leis naturais que são de caráter imutáveis e não dependem da intervenção arbitrária, deste modo a função básica da História seria o de reproduzir os fatos sem que estes se relacionem com o historiador. O sujeito (historiador) e qualquer que seja sua posição quanto ao objeto deve ser neutro. 

A existência dos homens, inseridos no movimento constante de evolução de suas sociedades, está sujeita e condicionada a uma constante de fenômenos no decorrer do trajeto o que deixa marcas, pegadas - documentos - que serão utilizados para reconstruir o passado, logo os fatos e consequentemente a História estariam nos documentos. O historiador seria o cientista capaz de extrair a verdade dos documentos.

Bibliografias Relacionada
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. AS ESCOLAS HISTÓRICAS. Europa-América, Lisboa, 1990.
CASSANI, Jorge Luis; AMUCHÁSTEGUI, A. J. Pérez. DEL EPOS A LA HISTORIA CIENTÍFICA.
Editorial Nova, Buenos Aires, 1971.
COMTE, Augusto. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1983.
William. FILOSOFIA DA HISTÓRIA. Zahar, Rio de Janeiro, 1977.
FOUCAULT, Michel. AS PALAVRAS E AS COISAS. Portugália, Col. Problemas/23, Lisboa, 1968.
GOFF, Jacques; NORA, Pierre (org.). HISTÓRIA: NOVOS PROBLEMAS, NOVAS ABORDAGENS, NOVOS OBJETOS. Francisco Alves, 3 vol., Rio de Janeiro, 1976.
Michael. IDEOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS. Cortez, São Paulo, 1985.
LOWY, Michael AS AVENTURAS DE KARL MARX CONTRA O BARÃO DE MUNCHHAUSEN. Busca Vida, São Paulo, 1987.
MARROU, Henri-Irénée. SOBRE O CONHECIMENTO HISTÓRICO. Zahar, Rio de Janeiro, 1978.
MÉSZÁROS, Istvan. FILOSOFIA, IDEOLOGIA E CIÊNCIA SOCIAL. Ensaio, São Paulo, 1993.
RÜSEN, Jörn. NARRATIVIDADE E OBJETIVIDADE NAS CIÊNCIAS HISTÓRICAS. TEXTOS DE HISTÓRIA/75-102, vol. 4, nº 1, 1996.

SEXTA-FEIRA, 10 DE ABRIL DE 2009

Historicismo By Douguera



Compreender o homem e o real é em termos, diga simplificado, o objetivo do historicismo enquanto História. Apresentando-se como uma ciência, como filosofia ou ainda como a realidade, este jeito de fazer História, se apóia no eixo de onde partem os conceitos e os julgamentos.

Caminhando com cuidado podemos encontrar vários historicismos, dentre os quais: o antropológico, que mantém o homem no centro das atenções e como guia do conhecimento e do saber, é portanto, um historicismo epistemológico[1] que tem a história como supra-sumo da reflexão teórico-metodológica das ciências humanas; um historicismo cosmológico, que propaga a História na essência do próprio real, bebendo no viés do evolucionismo científico, todavia não estabelece um rigor avaliativo nas reflexões sobre o ser, os fenômenos, a existência.

Encontramos em Michael Löwy[2] (1985: 68,71) as três premissas fundamentais e básicas do historicismo:
1. Todo e qualquer fenômeno histórico pode ser compreendido pela História, dentro da História, em relação ao processo histórico;
2. Ressalta a diferença fundamental entre fato histórico e fato natural, sendo de caráter qualitativo diferentes;
3. De que o historiador – na qualidade de investigador, pesquisador – assim como seu objeto de pesquisa, está imerso no curso da História.

Essas premissas fogem dos limites da escola historicista e podem ser encontradas em autores como Hegel, Kant ou ainda em Dilthey[3]. Segundo Dilthey, enquanto o cientista natural limita-se a uma explicação externa aos fenômenos o historiador, na qualidade de cientista social, tem o dever de compreender o fenômeno chegando a seu significado. Então Dilthey encontra uma profunda contradição no historicismo: se por um lado ele, como ciência, vai à busca do conhecimento objetivo, por outro cada obra científica está vinculada a um modo de ver o mundo. Essa visão de mundo, que eu prefiro conceituar como posições, limita e torna unilateral a interpretação da realidade levando uma expressiva restrição à produção do conhecimento histórico. Isso é claro, é a visão de Dilthey enquanto crítico ferrenho do posicionamento ecléticao quanto aos fatos e as interpretações.


Historicismo relativista

Não existe uma ou “a” verdade, o que existem, no plural, são as verdades, que são resultado de pontos de vista individuais de posicionamentos específicos dentro de, por exemplo, uma convecção dogmática religiosa ou posicionamento político.

Embora, uma interpretação pessoal leve a resultados parciais e unilaterais, para Droysen[4] isso não é um problema, ele refuta a idéia de uma História singularmente objetiva e defende a tese de que a História verdadeira não pode ser levada à neutralidade, que a verdade é relativa. Se a interpretação é de esquerda, direita, centro ou conservadora, liberal, em fim, a história pode sim ser resultante de pontos de vista, de posicionamentos políticos ou outras alegorias, no mais, embora o comum e o geral sejam aceitos por todos os historiadores não se deve esquecer que somente depois de tomarmos posições é que chegaremos a um conhecimento mais rico elaboradamente, justificando assim o parcial o unilateral e o relativismo.



1. Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego [episteme], ciência, conhecimento; [logos], discurso) é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento. Em educação e filosofia da educação seria o estudo crítico das vários métodos didático-pedagógicos
2. Michael Löwy (São Paulo, 6 de maio de 1938) pensador marxista brasileiro radicado na França, diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique.
3. Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um dos mais influentes filósofos alemães do século 19. Escreveu sobre psicologia, direito, história, arte e religião. Immanuel Kant, O filósofo alemão, nascido em 22 de Abril de 1724 é em geral, considerado o pensador mais influente e o último grande filósofo dos princípios da era moderna. Wilhelm Dilthey (Wiesbaden, 19 de novembro de 1833 — Siusi allo Sciliar, 1 de Outubro de 1911) foi um filósofo, psicólogo e pedagogo alemão.
4. Johann Gustav Droysen, Treptow an der Rega, Pomerania, 1808-Berlín, 1884) Filólogo, historiador y político alemán. Propugnó la unificación de Alemania y el papel directivo que debía tener Prusia. En 1848 fue elegido miembro del Parlamento de Frankfurt. Su obra más importante es Historia de la política prusiana, en 14 volúmenes (1855-1886), que dejó inacabada.


Bibliografias Relacionada

BLOCH, Marc. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA. Europa-América, Sintra, 1976.
BRAUDEL, Fernand. HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS. Editorial Presença, Lisboa, 1972.
BURKE, Peter. HISTÓRIA E TEORIA SOCIAL. Unesp, São Paulo, 2002.LOWY, Michael .AS AVENTURAS DE KARL MARX CONTRA O BARÃO DE MUNCHHAUSEN. Busca Vida, São Paulo, 1987.
CHARTIER, Roger. A HISTÓRIA CULTURAL ENTRE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES. Bertrand, Rio de Janeiro, 1990.
FEBVRE, Lucien. COMBATES PELA HISTÓRIA. Editorial Presença, Lisboa, 1985.
GOFF, Jacques; NORA, Pierre (org.). HISTÓRIA: NOVOS PROBLEMAS, NOVAS ABORDAGENS, NOVOS OBJETOS. Francisco Alves, 3 vol., Rio de Janeiro, 1976.
MEINECKE, Friedrich. EL HISTÓRICISMO Y SU GENESIS. Fondo de Cultura Economica, México, 1943.
TÉTART, Philippe. PEQUENA HISTÓRIA DOS HISTORIADORES. EDUSC, Bauru, 2000.

SEXTA-FEIRA, 3 DE ABRIL DE 2009

Quando a vida se torna uma mercadoria



by Douguera 
Uma economia de mercado é aquela em que a totalidade das mercadorias são produzidas para fins lucrativos, ou seja, para serem vendidas. Uma sociedade de mercado, por sua vez, é conseqüência ultrajante do desenvolvimento da economia de mercado e é nesse ponto que, além das mercadorias, o próprio homem passa a ser tragado e subordinado pelo mercado.

Para se ter uma idéia mais clara a respeito de como é tamanha a dependência do homem para com o mercado, vejamos, por exemplo, o encontro do G 20, grupo que reúne os países ricos e os principais emergentes, que ocorreu em Londres no último dia 2 de abril (ano de 2009): o anfitrião, primeiro ministro inglês, Gordon Brown, deixou bem claro em entrevista que a intenção do encontro era a de “acalmar o mercado”, como se ele fosse um bicho encurralado pronto a pular na jugular do homem. O fato é que, o homem passou a viver do mercado e não sabe mais viver sem ele, ao ponto de a própria honra, jóia humana preciosa na Idade Média, estar sujeita a corruptibilidade do escambo, da troca, da venda.

O mercado, para autores a exemplo de Karl Polanyi, é algo satânico devorador de vidas humanas. O pior é que a entidade maligna se tornou auto-regulável a partir do advento do liberalismo e a ascensão das democracias liberais no século XVIII, as pessoas então passaram a viver de mercado, ao ponto de a própria vida humana se tornar uma mercadoria. E ao tentar ariscar uma definição mais sensata para mercadoria, encontramos que: "seria tudo aquilo produzido pelo trabalho humano para gerar renda". E como explicar então o caso de países africanos, onde mulheres engravidam para vender suas crias, isso é claro para não dizer da escravidão. 


"O trabalho dignifica o homem". Diferentemente do que algumas pessoas acham o trabalho em si não é uma mercadoria, agora, a capacidade de trabalho essa sim é uma mercadoria, lucrativa e que está intimamente associada ao físico e ao psicológico do homem, ou seja, a vida do portador da capacidade de trabalho. Conseqüêntemente a vida está sendo comercializada como um objeto, e as pessoas se vendem a suaves e suadas prestações (o salário mínimo).

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