sexta-feira

A EDUCAÇÃO COMO UMA MERCADORIA



Por Douglas Barraqui e Jeferson da Silva Sobrinho Souza

INTRODUÇÃO

A Declaração Mundial dos Direitos Humanos assiste a temática educação como um direito universal. Mas, esse direito é usurpado, expropriado e comercializado, como uma mercadoria, visando o interesse do capital. 

É fato que nos dias atuais a educação aparece ligada às leis do mercado e as suas necessidades. À medida que a economia aumenta a qualificação profissional se torna uma exigência eminente do mercado de trabalho, bem como não se deve negar o fato de que em um mundo globalizado e em uma economia neoliberal a profissionalização tornou-se sinônimo de inserção no sistema.

No caso do Brasil, desde o plano real e sua gradativa consolidação da economia, o país tornou-se atraente para os investimentos do capital internacional. A inserção do Brasil nas políticas neoliberais trouxe consigo as necessidades de fazer uma revisão nas políticas públicas de caráter educacional. Com uma economia mais estável, demonstrando confiança aos investimentos externos, organismos unilaterais a exemplo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), atrelados às superpotências econômicas e as exigências do mercado capitalista, impuseram uma série de políticas educacionais ao Brasil.

O presente artigo pretende abordar a relação existente entre organismos internacionais, a exemplo do Banco Mundial, que tiveram papel ímpar nas transformações da educação brasileira nas últimas décadas, e dar enfoque ao caráter da mercantilização da educação no Brasil.
 
NEOLIBERALISMO: CONCEITO E CONTEXTO

O Neoliberalismo brotou em meio aos escombros da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação, como bem aponta Perry Anderson, teórica e política veemente e fulminante contra o Estado intervencionista e de bem-estar-social. Seu texto de origem é O Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944.

Seu propósito era combater o Keynesianismo e o solidarismo reinante e preparar as bases de um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro. 

Hayek argumentava que o novo igualitarismo (muito relativo, bem entendido) deste período, promovido pelo Estado de bem-estar-social destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos. A desigualdade era um valor positivo – na realidade indispensável em si –, pois era disso que precisava a sociedade ocidental.

A chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973, quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação, mudou tudo. A partir daí as idéias neoliberais passaram a ganhar terreno fértil.

O remédio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Redução dos impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. A desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, então às voltas com uma estagnação e inflação, resultado direto dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, a intervenção anticíclica e a redistribuição social.

A oportunidade surgiria em 1979. Na Inglaterra, foi eleito o governo de Thatcher, o primeiro regime de um país de capitalismo avançado publicamente empenhado em pôr em prática o programa neoliberal. Em 1980, Reagan chegou à presidência dos EUA. Em 1982, Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha. Os anos 80 assistiram o triunfo, mais ou menos incontestado, da ideologia neoliberal nas regiões de capitalismo avançado.

Então, em todos estes itens, deflação, lucros, empregos e salários, podem ser dito que o programa neoliberal se mostrou realista e obteve êxito. 

Economicamente, o Neoliberalismo fracassou, não conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. Política e ideologicamente, todavia, o Neoliberalismo alcançou êxito num grau com que seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples idéia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de adaptar-se a suas normas.

O CONSENSO DE WASHINGTON

No ano de 1989, no contexto do Neoliberalismo expressado nos governos de Thatcher e Reagan, foi organizado em Washington, convocado pela entidade de caráter privado Institute for International Economics, o encontro intitulado Latin Americ Adjustment: Howe Much has Happened? Reunindo economistas de tendências neoliberais, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-americano. O objetivo era reavaliar as políticas econômicas então em voga na América Latina.

Como aponta Francisco José Soares Teixeira, no texto O Neoliberalismo em Debate, o discurso neoliberal patrocinado pelos organismos financeiros internacionais foi comprado e posto em prática pelas elites políticas e econômicas locais como prerrogativa básica para solucionar a crise econômica que assolava a América Latina, que no Brasil ficou conhecido como a “década perdida”. Esse conjunto de propostas ficou conhecido como Consenso de Washington que se tratava de um conjunto de práticas e políticas econômicas que foram implementadas em conjunto pelos países latino-americanos.

As propostas do Consenso de Washington para a educação, como aponta Pablo Gentili, se baseia no diagnóstico a cerca da crise educacional e suas soluções. Para os neoliberais o sistema educacional latino americano enfrenta uma crise de eficiência, eficácia e produtividade. O crescimento da demanda educacional na metade do século passado permitiu um crescimento quantitativo, mas não qualitativo. O custo desta inserção acarretou na deteriorização da qualidade da escola pública.

Os neoliberais acusaram o Estado interventor de ser incapaz de solucionar a criseOs governos se mostraram incapazes de garantir tanto a qualidade quanto a universalização do ensino. Apesar de a universalização ser uma prerrogativa de todos os países latinos americanos os índices de exclusão e marginalização expressariam a incapacidade desses governos em promoveram uma educação includente em amplos aspectos.

Outra acusação contra o Estado interventor está na contaminação da esfera educacional pela esfera política que produz todos os males dentro da escola. A política acaba por transformar a escola como um espaço fundamentalmente público e estatal. O monopólio da educação pelo Estado não permitiria a concorrência de mercado acarretando uma baixa qualidade e eficácia do ensino. As escolas latino americanas, por não usarem idéias competitivas inseridas na lógica de mercado que dão privilégio a meritocracia ou seja ao esforço individual, apresentavam-se com dificuldades de adequarem o ensino ao sistema capitalista neoliberal. A questão primordial não seria a carência de recursos, mas sim a forma como estes recursos são empregados.

A prerrogativa neoliberal é a de fazer a transferência da educação da esfera pública para a esfera privada, embutindo as leis de mercado, descaracterizando assim a educação como direito social e transformando-a como mercadoria a ser consumido seguindo a lógica de mercado.

BANCO MUNDIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: METAS E OBJETIVOS DO GRANDE CAPITAL

Em 2002, o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) lançaram o Fast-Track Iniciative, que especialistas denominaram de Iniciativa Via Rápida (IVR). O objetivo principal, que segue o acordo com as metas do milênio, era o de acelerar o desenvolvimento educacional dos países que ganhariam o endosso.

Para poder solicitar recursos para a Iniciativa Via Rápida (IVR), os países de baixo rendimento passam por uma análise rigorosa condicionado pelo próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Um dos pré-requisitos é que os países apresentem seus projetos de redução da pobreza, o problema principal é conseguir o parecer dos órgãos financiadores, a dificuldade econômica desses países não significa maior chance de conseguirem o empréstimo. A Iniciativa Via Rápida (IVR) se demonstra como um projeto bem amplo, que segue a proposta das metas do milênio que foram fixadas em Jontien, em 1990, que dez anos depois serviram de base para as metas propostas em Dakar, em 2000.

De fato o financiamento não é o papel mais importante do Banco Mundial em educação transformando-se na principal agência que presta assistência técnica em educação para os países em desenvolvimento. Apresenta propostas amplas e articuladas para melhorar o acesso, a equidade e a qualidade dos sistemas escolares dando uma maior atenção ao primeiro grau.

A partir da década de 1973 o Banco Mundial, sob presidência de Robert Mcnamara, anunciou uma radical virada na política desta instituição quanto aos investimentos. A partir deste momento o Banco Mundial focalizaria suas ações nos países mais pobres atendendo principalmente suas necessidades básicas de moradia, saúde, alimentação, água e educação.

Quanto á educação o Banco Mundial aumentou seus investimentos, sem educação de primeiro grau e assistência técnica, em contra partida reduziu-se os recursos para o segundo grau. Da mesma forma a partir da década de 1990 o Banco Mundial decidiu dar maior atenção ao desenvolvimento infantil e a educação inicial. E atualmente enfatiza a necessidade de dedicar atenção especial á população indígena e ás minorias étnicas.

Na ótica do Banco Mundial os sistemas educacionais dos países em desenvolvimento enfrentam quatro problemas a serem solucionados: o acesso, que segundo a própria instituição já foi alcançado em parte pela maioria dos países em desenvolvimento, exceto na África que seus países se deparam com enormes entraves; a equidade considerada principalmente em relação aos pobres, em geral, e às meninas e às minorias étnicas, sendo a segregação da menina particularmente acentuada no Oriente Médio e no sul da Ásia; a qualidade que é observada como uma problemática generalizada que afeta todos os países em desenvolvimento; e por fim, a redução da distância entre a reforma educativa e a reforma das estruturas econômicas.

O Banco Mundial, atualmente, vem estimulando os países do Terceiro Mundo a concentrar seus recursos públicos na educação básica que é responsável comparativamente por maiores benefícios sociais e econômicos, considerada um elemento essencial para um desenvolvimento no prisma sustentável em longo prazo. Assim sendo a noção de educação básica, e porque não da educação como um todo, continua sendo centrada na educação formal e na educação infantil. E, portanto, instituições como a família, a comunidade, o trabalho, os meios de comunicação entre outros que acabam por ficar a margem de suas considerações e propostas sobre a política educacional.

Segundo Tommasi, em seu texto O Banco Mundial e as Políticas Educacionais, os projetos e propostas do Banco Mundial do modo como vem sendo reproduzido tem reforçado as tendências predominantes do sistema escolar na ideologia que o sustenta, ou seja, as condições objetivas e subjetivas que contribuem para produzir a ineficiência, a má qualidade e a desigualdade no sistema escolar, ao invés de contribuir para uma melhora da qualidade e eficiência da educação e, de maneira específica, dos aprendizados escolares na escola pública e entre os setores sociais menos favorecidos.

Na concepção do Banco Mundial a qualidade educativa seria resultado direto da presença de nove pontos fundamentais que interferem na qualidade da escola de primeiro grau. Pela ordenação de prioridades, que segundo estudos, revelam uma correlação e efeitos positivos: bibliotecas; tempo de instrução; tarefas de casa; livros didáticos; conhecimentos do professor; experiência do professor; laboratórios; salário do professor; e tamanho da classe. A infra-estrutura já não é assistida como prioridade tanto em termos de acesso quanto em termos de qualidade. Buscando economizar recursos o Banco Mundial recomenda: compartilhar custos com as famílias e comunidades; fazer múltiplo uso dos locais escolares; realizar uma manutenção adequada da infra-estrutura escolar. A descentralização assume grande prioridade sobre os aspectos financeiros e administrativos da reforma educacional. Propõem-se especificamente: a reestruturação orgânica dos ministérios das instituições intermediárias e da escola; fortalecer o sistema de informação (dados referentes à matrícula, assistência, insumos e custos); e por fim a capacitação de pessoal em assuntos administrativos. Transformando as instituições de ensino em máquinas tecnocratas, ou seja, apolitizada.  

Podemos notar, portanto, que as propostas do Banco Mundial para educação levam em conta fatores economicistas.  A relação custo benefício e a taxa de retorno constitui as categorias centrais a partir das quais se define a função da educação assim como as prioridades de investimentos, os rendimentos e a própria qualidade do ensino. Então, podemos concluir que hoje a educação não se encontra formulada por pedagogos, professores e especialistas em educação, mas sim, por profissionais vinculados a uma lógica neoliberal de mercado que acaba fazendo da educação mais um produto do sistema capitalista a ser consumido como uma mercadoria.

CONCLUSÃO

Independentemente da extensão e da compreensão, a educação consiste em última instância um produto mercadológico. Conceber a educação na ótica neoliberal é traduzir as leis do mercado aos caminhos que se chocam com uma educação de fato includente e de qualidade. A educação nesses termos intervencionistas, na visão do grande capital internacional, ou seja, na ótica de instituições como o Banco Mundial, é construir uma forma burguesa de se pensar em educação. Essas instituições capitalistas acabam por traduzir uma visão preconceituosa dos países em desenvolvimento sem levar em conta suas particularidades, elaborando planos universalizados em seus próprios objetivos dentro da ótica do grande capital.

Concordamos com Saviani quando ele afirma que nesta presente fase do capitalismo os organismos internacionais acabam exercendo um protagonismo no gerenciamento do desenvolvimento do capitalismo assim como suas crises, a exemplo do Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Assim sendo os projetos, as diretrizes, pareceres e conselhos dados pelos organismos internacionais, de fato se revelam como uma servidão voluntária ao modo de produção capitalista que de fato apenas se molda ao objetivo da classe burguesa.

Referências Bibliográficas:

ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir, GENTILI, Pablo. (Orgs.). Pós – neoliberalismo: as políticas e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. pp. 9 -13.  

GENTILI, Pablo. O Consenso de Washington e a crise da educação na América Latina. In: GENTILLI, Pablo. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

GENTILI, Pablo. Adeus á escola pública: a desordem neoliberal, a violência do mercado e o destino da educação das maiorias. In: GENTILI, Pablo. (Org.). Pedagogia da Exclusão: críticas ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes 2008. pp. 228-252. 

SUÀREZ, Daniel. O princípio educativo da nova direita: neoliberalismo, ética e escola pública. In: GENTILI, Pablo. (Org.).  Pedagogia da Exclusão: críticas ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes 2008. pp. 253-270.

TEIXEIRA, F.J.S. O Neoliberalismo em debate. In: TEIXEIRA, F.J.S., OLIVEIRA, M.A. de. Neoliberalismo e reestruturação produtiva: as novas determinações do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1996.

TOMMASI, Lívia de; WARDE, Miriam Jorge; HADDAD Sérgio (Orgs.). O Banco Mundial e as políticas educacionais. São Paulo: PUC: Cortez, 1995.

FRIGOTTO, Gaudêncio. A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos referenciais teóricos. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Teoria e educação no labirinto ‘do capital. Petrópolis: Vozes, 2001. PP. 21-46.








QUINTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2010

A conquista do império inca: uma breve narrativa

Por Douglas Barraqui com base na obra Paul Ulrich

“‘Companheiros, deste lado é a morte, a fome, o desespero. Do outro lado é a felicidade. Aqui, o Peru e as riquezas. Ali, o Panamá e a miséria. Castelhanos, escolhei! Eu já escolhi. Vou para sul. ’” Pizarro, 180 homens e 27 cavalos rumam a Caxamalca; um número irrisório para um mundo a conquistar, um império a pilhar e ao inca subjugar. O que se segue caro leitor é um breve resumo, por mim preparado, da narrativa empolgante de Paul Ulrich a respeito da derrocada do império inca, contido na obra Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas”.

“Em 24 de setembro de 1532, é o salto para o desconhecido: vão entrar no coração do reino inca, com a intenção de conquistá-lo com um exército que não chega a 200 homens. Impressionados com os perigos que adivinham, cinco cavaleiros e quatro infantes resolvem voltar. Pizarro, esse está pronto a tudo, infatigável. Cobre-se com uma couraça de ferro, sobre a qual lançou o manto, insígnia de sua condição de fidalgo[...].”

“Bom psicólogo, Pizarro aproveita-se dos rumores que correm e põe a circular que é um dos filhos de Viracocha, o Deus branco de Tiahuanaco. Filiação que parece tanto mais verossímil aos incas quanto Viracocha era o senhor do raio. Ora, o comandante espanhol tem os canhões e a pólvora.”

Um mensageiro do grande imperador inca oferece presentes ao chefe espanhol “[...] tecido de lã bordados a ouro, duas fontes de pedra, carne de pato seca. Em nome do rei Atahualpa, o emissário deseja as boas vindas aos estrangeiros e convida-os a visitar o campo do seu chefe [...]”.

Francisco Pizarro fala às suas tropas: “[...] que cada um de vós ganhe coragem e caminhe em frente como um bom soldado. Sem se deixar intimidar pelo nosso pequeno número. Pois nas maiores extremidades Deus combate sempre pelos seus; não duvideis de que ele abaixará o orgulho do infiel e o levará ao conhecimento da verdadeira fé, objetivo essencial da conquista.”

“Prova terrível. Estreitos caminhos foram talhados, nos francos da montanha, pelos incas, indiferentes ao precipício vertiginoso. Rude tarefa a dessa ascensão para os cavaleiros carregados de ferro e de couro, cavalgando animais de passo pouco seguro. E que locais favoráveis às emboscadas! Um punhado de guerreiros bem colocados poderiam esmagar em poucos instantes todo o grupo espanhol.” [...] “Os espanhóis sofrem com o frio atroz do vento da Sierra [...].”

“Os homens estão de tal modo esgotados que não manifestam o menor entusiasmo ao entrarem no vale onde se ergue Caxamalca. As casas brancas da cidade são rodeadas de suntuosos jardins, irrigada por uma imensidade de canais que partem de um rio de águas claras.” [...] “Eis o que conta um membro da expedição: ‘Ficamos cheios de assombro ao vermos os índios ocuparem uma tão excelente posição, um tão grande número de tendas, melhor dispostas do que jamais se vira nas índias. Este espetáculo lançou uma espécie de confusão e até temor nos corações mais firmes. Mas era demasiado tarde para retroceder ou para dar mostras de receio: pois os indígenas de nossa companhia teriam sido os primeiros, nesse caso, a lançar-se sobre nós. Assim, o mais arrogantemente possível, preparamo-nos para entrar em Caxamalca.’
“Eis o chefe inca, o senhor todo poderoso. A sua indumentária é mais simples do que as de seu séqüito. Mas tem na cabeça o ‘borla’, a franja escarlate, tão larga que lhe cai até as sobrancelhas [...]. O rei está sentado num banco muito baixo, talhado numa peça de madeira. No rosto do soberano, não se reflete qualquer sentimento. Nem no seu olhar.” [...] Um silêncio pesado reina entre os dois grupos, só perturbado pelo piafar de algum cavalo impaciente.”

Soto, um hábil cavaleiro dentre os homens de Pizarro “[...] esporeia sua montada e faz uma demonstração das suas excepcionais qualidade de ginete. Exibição tão perfeita que Soto detém o cavalo a poucos centímetros do soberano inca, que recebe alguns salpicos da espuma que jorra do franco do animal; mas alguns membros de sua guarda, tomados de medo, fogem. Nessa mesma noite serão executados, por se terem mostrado covardes diante dos estrangeiros.”
“O conquistador espanhol pelo seu lado, tem consciência da fraqueza de suas tropas. Como poderão menos de duzentos homens, mais ou menos enfraquecidos pelas privações e sofrimentos suportados, derrotar aqueles índios que tem por si a esmagadora vantagem do número?[...]”

“Uma vez mais, Francisco Pizarro deve provar que tem o ‘coração couraçado de triplo aço’. Discursa: ‘Então, vamos desistir no momento de chegarmos ao fim? Os índios tem flechas, fundas, laços? Bastará isso para fazer medo aos espanhóisque sabem bater-se a cavalo, possuem arcabuzes e canhões? Desde quando cem ‘selvagens’ valem mais do que um soldado de Carlos V? Quem será tão descrente ao ponto de não contar com o socorro da Providência? Não é a Espanha o gládio de Deus? Vamos consentir que estes infiéis continuem a prosternar-se diante de ídolos?.’”

“Sábado, 16 de novembro de 1532. O sol ergue-se na doçura da manhã rosada. Pizarro e seus homens estão prontos. Na noite de véspera os conquistadores confessaram-se e comungaram. Porque vão bater-se pela grandeza da Espanha, mas também pela de Deus. O padre Valverde, intrépido dominicano, dispensou largamente as absolvições. Pizarro pronunciou, ele próprio, o sermão. Vestiu a armadura e tem a espada na mão. As palavras jorram-lhe dos lábios. Quem pensaria estar no Peru apenas para juntar riquezas? Quem esqueceria que chegou o momento de dar a Deus a sua parte? [...].”

“[...] O chefe dos conquistadores organizou todo o seu dispositivo em torno da praça principal de Caxamalca. Esta é rodeada por edifícios cujas portas e abrem para ela. A cavalaria, dividia em dois grupos, e a infantaria, instalam-se neles. A pouca distancia é deixada uma reserva de vinte homens. Dois canhões e alguns soldados, comandados por Pedro de Candia, [...]. A tática a seguir é simples: quando o soberano inca e seu séquito tiverem entrado na praça, um tiro de canhão dará o sinal para a batalha. [...]”
“Desconfiado das intenções dos estrangeiros um dos seus [do imperador inca] melhores oficiais, Ruminagui, tomou o comando de cinco mil homens; estão encarregados de fechar todas as vias de acesso a Caxamalca. Cercados, aos espanhóis restará render-se ou morrer.”

“Eis o soberano e o seu cortejo. Os primeiros a aparecer são centenas de servidores, varrendo o caminho para expulsar o mais insignificante grão de poeira: cantam com uma voz tão rouca que ‘os seus cantos parecem vir do inferno’. Depois aparecem escravos, carregando vasos de ouro e martelos de prata; guardas envergando vestes de cores dispostas em xadrez; e os oficiais, vestidos de branco, com as orelhas bizarramente esticadas por pesados berloques. Por fim, transportados pelos mais altos dignitários do reino, o palanquim do rei. É ornamentado por placas de ouro e por penas de papagaio. O trono é igualmente de ouro maciço. O rei está suntuosamente vestido, com a faixa ritual a prender-lhe os cabelos curtos. Na cabeça tem uma coroa encimada por penas brancas e negras. Ao pescoço, um colar de esmeraldas ‘de um tamanho e brilho extraordinários’. Sobre o seu peito cintila um peitoral de ouro maciço, cravejado de pedras preciosas. Uma majestade impressionante desprende-se do rei do Peru. O seu rosto não traduz nem orgulho, nem alegria, nem temor. É o monarca planando acima dos homens.”

“[...] Encontram-se agora cinco ou seis mil índios amontoados no centro de Caxamalca. Atahualpa espanta-se e pergunta: ‘Onde estão os estrangeiros? ’ Aparece então o monge, Vicente Valverde, vestindo o seu hábito branco de dominicano. Numa mão tem a bíblia, na outra um crucifixo. ‘Venho’ – diz ele solenemente ao chefe inca – ‘por ordem do meu soberano, expor-vos a doutrina da verdadeira Fé.’”

“E explica o mistério da Santíssima Trindade, sem esquecer a criação do homem, o pecado original, a redenção de Cristo, [...]. O poder dos apóstolos [...] transmitidos aos sucessivos papas [...]. Foi um papa quem encarregou o rei da Espanha – o mais glorioso dos reis terrestres – de converter os indígenas do hemisfério ocidental. [...] Portanto, que o rei dos incas abjure dos seus erros, que abrace a verdadeira Fé, e então estará salvo. [...] reconheça a autoridade do rei da Espanha e passe a considerar-se como seu fiel vassalo. E, para terminar, a ameaça: se o inca se recusar a obedecer, será a tanto obrigado pela força.”

“Atahualpa fica mudo de assombro. A despeito dos esforços do interprete, nada compreendeu do discurso do padre. Porque há de reconhecer a autoridade de um soberano distante, quando ele, o chefe inca, é o senhor absoluto do seu reino. E que doutrina e essa da Santíssima Trindade? Aonde vai o monge buscar a sua verdade? Valverde estende a bíblia ao rei. Este vira e revira o livro entre as mãos. ‘Não conheço esse Deus único e triplo de que me falais – responde Atahualpa –conheço apenas [...] Viracocha, filho do Sol, o deus supremo.’ Depois, num gesto de cólera, lança a bíblia por terra.”

“‘Sacrilégio! Sacrilégio! ’. Grita o dominicano”.

“O conquistador não pede tanto. Pega no seu lenço branco e agita-o acima da cabeça. É o sinal. O canhão troa. Ressoa então o velho grito de guerra dos soldados espanhóis: ‘Santiago e Castela! Sus a eles!’”
“Os conquistadores abandonam os edifícios que lhes serviam de esconderijo e irronpem na praça. Assustados pelo troar do canhão, literalmente assaltados por aqueles diabos barbudos, asfixiados pela fumaça dos arcanuzes, os incas não sabem para onde fugir. Os cavaleiros lançam os cavalos sobre eles e esmagam-nos impiedosamente. Os que conseguem escapar são perseguidos e massacrados. Os guardas de Atahualpa batem-se com uma coragem exemplar para proteger o seu rei. Mas que fazer contra a fúria espanhola? Tentam desmontar os cavaleiros, esventrar os cavalos, mas são passados à espada. Se o combate abranda, é porque a fadiga começa a tornar pesados os braços dos conquistadores. No meio dos gritos de alegria dos espanhóis, dos estertores dos moribundos, [...].”
“Os soldados espanhóis abrem caminho a golpes de espada por entre os guerreiros que oferecem a vida para proteger o soberano. O palanquim real acaba por tombar. O rei do Peru está por terra e já os seus vencedores se preparam para matá-lo. Pizarro salta, afasta com um braço as espadas ameaçadoras, [...] Com as mãos ensanguentadas, agarra Atahualpa pelos cabelos e arrasta-o para fora da luta, [...]eleva-se a voz de Pizarro: ‘que aquele que preza a vida não toque no soberano inca!’”

O que vai se seguir meu caro leitor são mais de 500 anos de um dos maiores, se não o maior, genocídio da história humana. Espoliação, pilhagem, mas também resistência como nunca antes visto. A conquista em seu sentido mais amplo, de dominação total, de aculturação e de uma eliminação dos vencidos, vai nos dizer Bruit em “O Visível e o Invisível na Conquista Hispânica da América”, não chegou a realizar-se. Mesmo derrotados, explorados, usurpados de suas terras os nativos tornaram, até certo ponto, o processo de colonização instável. Que apesar da destruição e o genocídio os índios ainda sobrevivem física e culturalmente, e a sua presença é, de algum modo, marcante em quase todas as sociedades do continente americano.

Bibliografia Consultada

BRUITHéctorO visível e o invisível na conquista hispânica da América. In: América em tempo de conquistas. Pág. 77-99.

ULRICH, Paul. Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978. 247p.

SEXTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2010

O Petróleo no Golfo do México: Atentado terrorista ao meio ambiente


Por Douglas Barraqui 

Os especialistas “em coisa alguma” foram ágeis para projetar os danos apocalípticos sobre o derramamento de óleo no Golfo do México: mais de 1600 quilometros de águas irreparáveis e praias em estado de risco; a pesca será prejudicada por temporadas indeterminadas; espécies fragilizadas levadas à extinção e o mais trágico, para não dizer cômico, a indústria petrolífera arrasada por anos. Coitadinha.

Em 20 de abril de 2010, na costa do estado da Lousiana, EUA, o homem desferiu o maior atentado terrorista da história contra o meio ambiente quando a torre de perfuração de petróleo Deepwater Horizon, da operadora britânica British Petroleum (PB), explodiu e pegou fogo.

Obama chamou o vazamento de “um possível desastre ambiental sem precedentes”. O fato é que é decepcionante a forma com que o presidente americano vem tratando o vazamento de petróleo do Golfo. Os conservadores lançam farpas afiadas contra o governo Obama, dizem que o desastre do Golfo é algo como o Katrina de Obama, acontecimento no qual ele está demonstrando a mesma incompetência de George W. Bush depois do desastre natura. Todavia, o desastre no Golfo não é, como disse o governador do Texas Mr. Rick Perry, “um ato de Deus”, não é um desastre natural, mas sim um ato humano, é o nosso 11 de setembro de 2001, contra o meio ambiente.

Para se ter uma idéia bem cômica da proporção apocalíptica sem precedente que está tomando este acontecimento, uma estatal iraniana (arques inimigos do “tio Sam”) de petróleo ofereceu ajuda para conter o vazamento que irá atingir os Estados Unidos. Contraditório? Não! O Irã sabe muito bem que o problema ambiental dos EUA não é somente o problema dos EUA, mas sim de todos que vivem neste planeta, levando em consideração as consequências para o meio natural.

Já é sabido que mais petróleo está vazando agora no Golfo do México do que qualquer outro momento da história. São cerca de 30.000 a 60.000 barris de petróleo por dia, especialistas já dizem que este acidente superou o hecatombe do petroleiro Exxon Valdez, em 1989, na costa do Alasca, que contaminou 2.000 quilômetros depraias e dizimou milhares de aves marinhas, lontras e focas, alem de 250 águias e 22 orcas.

Em meio a tantas especulações e a todas as críticas disparadas por todos para todas as partes, a problemática decisiva é o fato deste vazamento estar a uma profundidade média de 1.500 quilômetros complicando todas as operações técnicas normais, inclusive um simples fechamento de uma válvula, torneira. Que isto nos faça refletir nas dificuldades e, principalmente, nos perigos da exploração de petróleo no nosso Pré-sal, onde as nossas jazidas estão em uma profundidade de 5 a 7 mil quilômetros de profundidade.

Portando, este é sim o maior atentado terrorista da história da humanidade contra o meio ambiente, não são simplesmente seiscentas espécies de animais que estão ameaçados com o vazamento de óleo da empresa britânica, mas sim todos nós seres humanos interligados a vida desse planeta. 

Quanto de petróleo ainda tem que ser derramado? Quantos animais marinhos têm que morrer? E quantas mesquitas, armas de destruição em massa e guerras têm que ser movidas com nossa sede por gasolina, fazendo de nós mesmos terroristas em potencial? 

Na seqüência dessa tragédia histórica tem que vir um plano de ação para colocar um fim em nosso vício pelo petróleo. Que essa tragédia venha a moldar as mentes humanas de como pensar o meio ambiente para os próximos anos, dando enfoque principalmente em fontes de energias limpas. É nítido que não colocaremos um fim da exploração de petróleo ou nosso vício pelo ouro negro da noite para o dia, mas será que podemos começar?!








Ainda há tempo:

BIBLIOGRAFIAS CONSUTADAS:

Globo CiênciaObama compara catástrofe no Golfo do México a 11 de Setembro e diz que política ambiental terá que ser reavaliada. Acesso em 23 de julho de 2010. 

Jornal o GloboObama vistoria o vazamento de petróleo no Golfo do México. acesso em 22 de julho de 2010.


Correio Brasiliense. Vazamento de óleo no Golfo do México é o maior desastre ecológico na história dos EUA. Acesso em 22 de julho de 2010.

G1. Vazamento no Golfo do México é 'pior desastre dos EUA. Acesso em 23 de julho de 2010.




QUARTA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2010

O culto ao Corpo: uma análise sobre a ótica dos antigos gregos

Por Douglas Barraqui 

“Divina Pã – e vós deuses outros destas paragens! Daim-me a beleza da alma, a beleza interior e fazei com que meu exterior se harmonize com essa beleza espiritual. Que o sábio me pareça sempre rico; que eu tenha tanta riqueza quanto um homem sensato possa suportar e empregar.” [1]

Atualmente corpos magros, saudáveis, atléticos e harmoniosos são sinônimos de beleza, qualidades supervalorizadas e, ao mesmo tempo, cobrada e imposta pela nossa sociedade. 

Um culto ao corpo e à beleza que movimentam dentro da ótica do sistema capitalista bilhões de dólares em produtos e serviços e faz milhares de pessoas, se submeterem a dor e ao sofrimento, em centros cirúrgicos em dietas mirabolantes, a fim de terem o corpo desejado. 

E como os gregos pensavam o corpo? Esse é o objetivo desse artigo. Não trago, portanto, nenhuma receita para emagrecer e tão menos para te dar uma “barriguinha de tanquinho”, me basto apenas em mostrar como os gregos cultuavam o corpo bem antes de nossa sociedade capitalista, consumista, estereotipada e estigmatizada. 

O belo para os gregos (το όμορφο για τους Έλληνες)

De fato a batalha por um corpo bonito e saudável é bem antiga, mais ainda do que suponha, a exemplo podemos retornar aos gregos. Para estes a beleza do corpo não se resumia à estética, ela expressava um modo de vida do cidadão grego. O grego belo era aquele que tinha nos exercícios físicos uma prática de valor do grande homem, era aquele que aprendia música, um ser politizado, tendo um gosto ciclópico pelo conhecimento e pela arte.

E os Jogos Olímpicos eram a plataforma de desfile. A ocasião na qual aqueles homens competiam entre si, demonstravam também qualidades valiosas para aquele povo: coragem, astúcia, força, indo muito mais alem do que meramente corpos fortes e bonitos.

Buscando a origem etimológica da palavra ginásio, esta vem do grego “gumnos”, isto é, “nu”, isso porque os jovens que ali competiam e se exercitavam não usavam roupas. Estes ginásios, com destaque para os atenienses, tinham por objetivo transformar o jovem grego em um cidadão completo.

Ali, parte das atividades eram reservadas ao exercício físico. Uma outra parte, os alunos aprendiam leitura, escrita, cálculo, poesia e música. Aprendiam ainda, com os mais velhos, e falar bem e a argumentar com perfeição. Além disso é importante destacar que os treinamentos físicos não tinham um puro intuito militar, procuravam também preparar o homens para as competições nos Jogos Olímpicos.

A beleza nos atletas olímpicos (η ομορφιά των Ολυμπιακών αθλητών)
Os famosos Jogos Olímpicos, que sobreviveram ao fim da civilização grega e até hoje são celebrados, eram realizados em homenagem a Zeus. A data que se considera como o início dos jogos é 776 a. C., porém esta foi de fato a data pela qual o nome dos vencedores passaram a ser registrados, a historiografia sabe que as competições olímpicas eram bem mais antigas, alguns sugerem que é originária de antes do ano 1000 a. C. O ato de registrar o nome dos grandes campeões seria um ato de vaidade entre os gregos?
O torneio considerado inaugural foi realizado na cidade grega de Olímpia. O grande vencedor foi Coroebus de Ilia. Com uma armadura e escudos pesados ao corpo, como todos na pista, ele foi o grande vencedor olímpico a percorrer 193 m da prova de velocidade. A sabedoria entre os helênicos premiava os campeões com a aura da imortalidade: os feitos e marcas poderiam ser superados, todavia, nunca apagados. Chionis de Olímpia, grande campeão do salto em distância em 656 a. C. e um grande exemplo: se os arqueólogos não cometeram erros na tradução dos registros erodidos, sua marca foi a de 7 m e 05. Um recorde que atravessaria dois milênios de história. Ele venceria, com louvor, os Jogos de Atenas de 1896, quando o norte americano Ellery Clark surpreendeu saltando 6 m 35. competindo em Paris em 1900 e Saint Louis em 1904, o grego ainda subiria ao podium por duas vezes para buscar o bronze e a prata. O belo Chionis e seu feito ciclópico etraram para a história.

De fato, apenas os homens disputavam as provas olímpicas, e os vencedores, a exemplo de Coroebus e Chionis, eram premiados com uma coroa de louros. As mulheres promoviam uma competição à parte, a Herae. Sendo realizada na cidade de Argos, e significava uma homenagem a Hera, esposa de Zeus.

Atletas como Coroebus e Chionis eram, para os gregos, a expressão maior da coragem e da beleza física dos homens. Suas formas e habilidades impressionantes, a sua força invencível, suas astúcia eram sinônimo de uma cidade Estado Grega de grande homens, capazes de protegê-la. 


A exemplo daquela época, os atletas modernos representam o ideal beleza e, porque não, de cidadania. Hoje, ao subir ao podium mais alto para receber a medalha de ouro e a coroa de louros, como acontecia com os atletas gregos, não é somente o atleta que esta sendo premiado, mas também o próprio país que ele representa. Sinônimo de orgulho para os seus compatriotas, um espelho aos jovens futuros atletas e uma dose de entusiasmo dentro do louvor a vitória da pátria mãe do atleta.

Assim como nos atletas olímpicos, também podemos observar o ideal de beleza grego nos heróis dos mitos gregos, a exemplo de Aquiles, que participou do cerco à Tróia; Teseu, que derrotou minotauro no labirinto de Creta e Perseu que decapitou a medusa, isso sem citar Hercules.
Entre os gregos e o mundo contemporâneo: a ditadura dos padrões de beleza

Nos idos do século XIX, os ginásios multiplicavam-se e os manuais médicos começavam a chamar a atenção para as vantagens da prática de exercícios físicos como prerrogativa para uma vida saudável. No início do século XX, surge a concepção de que mulher magra era sinônimo de beleza. O corpo magérrimo tornou-se uma moda alguns e para outros uma obsessão. Os bons casamentos passaram a depender desse aspecto de “boa aparência”. 

O cinema americano tomou o lugar de Paris nos ditames da moda e da beleza. Hollywood com seus estúdios, máquinas dos sonhos, do “american way of life”, e com o poder de sedução de suas estrela e galãs serviriam de modelo para a concepção de beleza que aplaca o mundo moderno.

A velhice passa a ser encarada como perda de prestígio e de afastamento do âmbito social, a obesidade entra para o hall das aberrações e torna-se um critério determinante, sinônimo, para a feiúra. A gordura se era assistida como um entrave aos novos tempos que exigem velocidade e agilidade.

As ditas carnudas dos anos de 1950, como Marilyn Monroe, eram substituídas por mulheres esqueletizadas. E uma onda de bulimia e anorexia nervosa começa a multiplicar entre os jovens. O magérrimo e o esqueleto a mostra passa a ser concebido como belo.
Uma tirania insólita da dita perfeição física. E com os avanços da medicina estética, o que não vem de fábrica pode ser facilmente adicionado ou retirado. Assim as mulheres e recentemente os homens constantemente entram nas salas de cirurgias para corrigir suas, ditas imperfeições.

O que podemos denotar, em uma analise do culto a forma entre os gregos e o homem moderno é que enquanto os gregos cultuavam o belo de forma que o corpo serve a um propósito maior; o homem contemporâneo, nas palavras de Mary Del Priori, serve ao corpo em vez de servir-se dele.

1, Prece de Sócrates. In PLATÃO. Fedro: texto integral. São Paulo: Martin Claret, 2003. pg. 125.

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